Pretos, pardos, pobres e sem estudo são mais afetados pela Covid

Divulgação do IBGE mostra como a doença atingiu diferentes setores da sociedade

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Rio de Janeiro

A primeira divulgação mensal da Pnad Covid-19, edição extraordinária da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) criada para medir os efeitos do novo coronavírus sobre a população e o mercado de trabalho, mostrou que os brasileiros mais afetados pela doença são os pretos, pardos, pobres e sem estudo.

Os resultados mostram que, além de relatarem incidência maior dos sintomas da Covid-19, brasileiros desses grupos também sentiram de maneira mais forte os impactos econômicos provocados pela pandemia, que levou ao fechamento de estabelecimentos e suspensão de operações industriais.

Entre os 4,2 milhões de brasileiros que apresentaram sintomas da doença em maio, 70% deles eram de cor preta ou parda, informou nesta quarta-feira (24) o IBGE. Essa população é maioria no país, com 54,8% de representatividade, mas o volume de pessoas com sintomas de síndrome gripal mostra que a doença os afetou em maior proporção.

Além disso, a doença afetou em maior quantidade os brasileiros com menor grau de instrução. Apenas 12,5% das pessoas que relataram sentir os sintomas têm ensino superior completo ou pós-graduação. Já quase 50% não têm instrução, têm o ensino fundamental incompleto ou o médio incompleto.

Foram considerados na pesquisa como sintomas conjugados a perda de olfato ou de paladar, ou tosse e febre e dificuldade para respirar, ou tosse e febre e dor no peito, todos eles possíveis indicativos de síndrome gripal, que pode ser ou não associados à Covid-19.

No mercado de trabalho, fica ainda mais perceptível a leitura de que a cor e o nível de escolaridade exerceram influência sobre os efeitos da pandemia. Em maio, segundo o IBGE, 19 milhões de brasileiros foram afastados do trabalho. Entre eles, 9,7 milhões ficaram sem remuneração.

Entre os trabalhadores brancos, 16,1% foram afastados. Entre os pretos e pardos, o índice de afastamento foi de 20,8%.

"Parte dessa população [preta e parda] está concentrada em ocupações na construção e no comércio, que foram mais afetadas", analisou Cimar Azeredo, coordenador do IBGE.

O IBGE detectou também que o afastamento se deu em maior intensidade entre os informais e em setores de serviços, incluindo os serviços domésticos sem carteira assinada, categoria em que 33,6% dos trabalhadores deixaram de ir ao trabalho em maio.

São ocupações que exigem menor escolaridade, o que se refletiu também na taxa de afastamentos por nível de instrução. Entre os brasileiros com curso superior completo, 15% disseram ter sido afastados do trabalho em maio. Nos outros níveis, a taxa se situa entre 19% e 20%.

​Apenas 9% dos pretos e pardos tiveram a oportunidade de trabalhar em home office, enquanto 17,6% dos brasileiros de cor branca puderam aderir a essa iniciativa.A Covid-19 fez ainda com que 28,9% da população preta ou parda deixassem de procurar trabalho. Os brancos somaram 18,7% nesse quesito.

Historicamente, o desemprego é maior entre pretos e pardos do que entre brancos no país. Em maio, sob o efeito da pandemia, não foi diferente: segundo o IBGE, a taxa de desemprego de pretos e pardos foi de 12%, contra 9% verificados entre os brancos.

Não é possível, porém, comparar os dados dessa pesquisa com os da Pnad Contínua, que apura a taxa de desemprego oficial no país, já que esta última tem metodologia diferente, com coleta de dados durante três meses e em um número maior de domicílios.

A Pnad Covid foi criada especialmente para tentar identificar os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho e a saúde dos brasileiros, com o objetivo de servir de base para a elaboração de políticas públicas para minimizar os impactos da crise.

A pesquisa mostra que a região com maior incidência de sintomas conjugados, por exemplo, é a região Norte, com 7,8% da população apresentando esse quadro. No Amazonas, um dos estados mais afetados pela pandemia, com mais de 2.600 mortes, o índice chegou a 8,8%. Em São Paulo, estado com mais óbitos, acima dos 13 mil, a taxa ficou em apenas 1,1%.

Mostra também que as desigualdades regionais também são vistas quando se trata de efeitos econômicos da pandemia: Norte e Nordeste lideram em incidência de trabalhadores afastados, com taxas de 23,3% e 26,6% respectivamente, e de trabalhadores que ficaram sem remuneração (53,2% e 55,3% dos afastados).

Até esta terça, o Brasil registrou 52.771 mortes pelo novo coronavírus e 1.151.479 casos de infecção pelo Sars-CoV-2. O primeiro caso no país foi em 25 de fevereiro, há quase quatro meses.

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Comentários

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ALEXANDRE MARTINS FERREIRA

21.abr.2021 às 13h04

"Quem sabe um dia eu escreva uma canção pra vocês." Se não me engano, uma reportagem da Folha, que dizia lá pelo final dos anos 90, que o mercado interno do Brasil tinha o tamanho do Inglaterra, Grã-Bretanha, algo assim. Fora a massa de excluídos. Muito dessa gente, provavelmente. Espero que não dê problema em Angra. De 2019 para cá é o que falta para a letra dessa canção.

Nilson Alves dos Santos

24.jun.2020 às 21h07

Crimes. Mortes. Genocídio. A Subnotificação do Covid é Intencional e Criminosa. Corrupção correndo solta em Brasília. Bolsonero è a Crise. Sua atuação está retardando a retomada da Economia. Quando os empresários perceberem isto, bolsonero Cai. Temos de retomar as cores da Democracia e de nossos Símbolos que foram Sequestrados pelos Fascistas. Frente Ampla Já. Impeachment Já.